Escavações arqueológicas revelam novas descobertas sobre a Odontologia
Hoje, fica difícil imaginar que, há quase 10 mil anos, o homem já se submetia a algum tipo de intervenção odontológica.
Mas, descobertas recentes apresentadas por uma equipe de arqueólogos e antropólogos da França, revelaram que aldeões paquistaneses que viveram há 9.500 anos, durante o período Neolítico (que se iniciou com a agricultura), usavam brocas de pedras para abrir buracos nos próprios dentes.
O estudo, apresentado na Revista Nature, em abril deste ano, diz que a descoberta é fruto de escavações na região de Mehrgarh, no Paquistão, onde foram encontrados restos de homens e mulheres com uma ou mais intervenções nos molares. Os dentes descobertos apresentavam perfurações de milímetros, aparentemente feitas com brocas de pedra sobre o esmalte das peças. Os descobridores dos dentes perfurados e dos artefatos escreveram no artigo da revista que trata-se do primeiro registro de uma atividade que pode ser chamada de “odontológica”.
O pesquisador italiano Roberto Macchiarelli, que trabalha na Universidade de Poitiers, na França, explicou no artigo da revista que, em alguns casos, foi detectada uma relação direta entre cáries e as aberturas na coroa dentária, enquanto que em outros restos isso não é tão evidente. O que complica a interpretação é o desgaste dos dentes ao longo do tempo, muito acentuado nas populações do período Neolítico. Há indícios de que um tipo de “massa” dentária de origem vegetal tenha sido utilizada ou, em alguns casos, o betume (material parecido com o petróleo usado na produção do asfalto).
Os pesquisadores chegaram a simular o procedimento “odontológico”, no qual as brocas de pedra eram amarradas a arcos de madeira. Estes eram movimentados rapidamente para abrir os buracos. Uma das arcadas encontradas pela equipe apresentava não só perfurações, mas também “obturações”. Era um modo totalmente precário e extremamente dolorido, que chegou a ser comparado à tortura pelos pesquisadores. Tal prática foi abandonada cerca de 6.500 anos atrás e ainda não se descobriu o porquê.